Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.
2 comentários:
Oi Janete...vim retribuir sua visita ao meu blog e lógico conhecer o seu! No comentário que você deixou, você pediu a minha opinião sobre pintura em azulejos...confesso que ainda não li nada sobre o assunto. Mas vou pesquisar e o que eu achar sobre o assunto passo para você, viu! bjo e ótimo domingo. Ah...já estou te seguindo!
Oi Ana, obrigada pela visita e por ser minha seguidora. Aliás a minha primeira seguidora. Fiquei super feliz! Sou uma iniciante em blogs, mas estou amando isto aqui. Um beijo grande e espero mais visitas suas.
Postar um comentário